9.5.09

um ótimo timing

devo admitir: às vezes, minha mãe tem um ótimo timing pras suas lições de vida. na realidade, imagino que ela tenha um detector de besteirinhas que passam pela minha mente. parece que ela consegue enxergar as engrenagens da minha cabeça trabalhando de uma forma errada, me levando pra outro caminho. ou talvez seja apenas o seu sétimo sentido, aqueles que só as mães tem.
explicando: as coisas seguem sempre o mesmo caminho. tudo começa com uma imagem do futuro. uma imagem feliz. mas o que faz essa imagem ser feliz é ela ser a projeção de uma imagem do passado. em seguida, passo longos minutos apenas recordando essas imagens felizes e bonitas, com um sorriso inevitável no rosto. daí acontece tudo muito rápido: as imagens bonitas são invadidas e destruídas por imagens horríveis. cenas que me corroem por dentro, que me causam um terrível mal estar. a felicidade que eu tenho ao imaginar o futuro e lembrar de certas partes do passado é substituída por ódio. o mais puro e genuíno ódio. isso tudo cresce dentro de mim com uma rapidez incrível. por pouco, muito pouco, eu não coloco tudo à perder. é aí que minha mãe entra.
o engraçado é que, quase sempre, só ela consegue me tirar desse estado. hoje foi só mais um caso. ela começa a falar de tudo o que passou, e de como provavelmente estaria se tivesse carregado com ela todas as coisas ruins que viveu. parece um papo muito clichê, e talvez seja, mas funciona bem. o que aconteceu, aconteceu. não tem como voltar o tempo pra concertar os erros, nem eu, nem ninguém. guardar isso só faz mal. tudo de ruim que acontece deve ser esquecido, enterrado, pra não atrapalhar futuramente. trazer isso pro presente só vai estender os problemas pro futuro. daí o nó no peito vai afrouxando, o ódio vai desaparecendo e eu posso voltar a pensar, sorridente, no futuro lindo que vamos ter. sábia genê.