as coisas continuaram mais ou menos do mesmo jeito por muito tempo. até que, pra minha total felicidade, uma criatura divina, um santo, um anjo criou a câmera digital. não lembro quando foi isso, mas lembro que minha mãe comprou uma. a partir daí, viramos uma coisa só. eu e câmera, câmera e eu. tirava fotos de tudo e todos, não sei quantas vezes. levava pra escola, mil fotos. e todo mundo gostava, já que era novidade. na outra escola, minha cam passou por tantas mãos que já não era mais novidade ter uma pasta no computador só pra fotos de desconhecidos, ou simplesmente gente que não é minha amiga. aliás, as fotos que ela carrega hoje na memória cabem exatamente nessa categoria, e foram tiradas há quase dois anos.
só por esse comentário já dá pra perceber que nosso amor, meu e da cam, não vingou. foi eterno enquanto durou, mas hoje em dia ela se esconde na gaveta da minha mãe, já toda danificada, dando tilt pra tudo.
e qual o motivo da nossa separação? não sei. na verdade, só fui reparar nisso agora, enquanto brincava de tirar foto com a webcam, pra editar no picnik. talvez tenha sido porque meu professor de fotografia no técnico de design gráfico era um chato, prendia minha imaginação, vivia reclamando das minhas fotos quando eu as tirava, mas na hora da avaliação no computador, o puto dizia que estavam boas - sem saber que eram minhas, claro. e ainda teve a pachorra (paxorra?) de me dar I, alegando que eu não tirava fotos. oi, eu saía correndo com a câmera profissional dele e tirava mais fotos que todos na sala. ou talvez porque eu tenho pavor desses pseudo-artistas de merda que tiram fotos tortas e desfocadas de qualquer coisa e saem falando por aí que é arte conceitual. não que eu não curta arte conceitual, mas qualquer boça sabe ver se é algo ideológico ou se é foto mal-batida. e, sei lá, vai que eu viro um babaca igual à eles. vai saber.